Bullying: como reconhecer em casa e na escola?

Bullying é agressão intencional, repetida e com desequilíbrio de poder entre pares. Pode ser físico, verbal, social por exclusão e boatos, ou digital no ciberbullying. Não é brincadeira. Causa ansiedade, depressão, queda de desempenho e pode aumentar risco de ideação suicida quando persiste.

Dados atuais que ajudam a dimensionar

  • Brasil, 9º ano: 23% dos estudantes relataram ter se sentido humilhados pelos colegas nos 30 dias anteriores à pesquisa. 13,2% relataram agressão em redes sociais ou aplicativos. Meninas reportaram mais humilhação que meninos.
  • Global: em vários países, uma parcela importante de jovens de 13 a 15 anos relata ter sofrido bullying nos últimos meses.
  • Europa: aproximadamente 1 em cada 6 escolares sofreu ciberbullying nas idades de 11, 13 e 15 anos.
  • Brasil online: entre crianças que usam internet, cerca de 20% já sofreram ciberbullying e 12% admitiram ter sido ofensivas online. Cor e raça foram os motivos mais citados de discriminação observada.
  • Brasil, 2025: denúncias de violações envolvendo crianças e adolescentes seguem elevadas nos canais nacionais de denúncia, reforçando a necessidade de prevenção e resposta rápidas nas escolas e famílias.

Como os pais podem reconhecer o Bullying

Em casa, observe mudanças repentinas. Medo de ir à escola, queixas físicas como dor de cabeça e dor de barriga antes da aula, objetos perdidos ou rasgados, queda nas notas, isolamento, irritabilidade ou choro após mexer no celular. Em adolescentes, atenção a contas secretas, exclusão de históricos e ansiedade após mensagens ou jogos online. Esses sinais não provam bullying, mas pedem conversa aberta e checagem com a escola.

Ciberbullying: o que muda no online

A agressão acontece em aplicativos, jogos e redes. Funciona o tempo todo, pode ser anônima e viraliza rápido. Isso aumenta vergonha, medo de retaliação e dificulta que a vítima peça ajuda. Prevenir inclui configurar privacidade, limitar chat aberto com desconhecidos, revisar listas de amigos e ensinar a bloquear, registrar por prints e denunciar.

Se o seu filho é vítima: passo a passo

  1. Acolha sem julgar. Frases que minimizam cortam o diálogo.
  2. Registre evidências. Guarde prints, datas e nomes e leve para a escola.
  3. Ative a escola. Peça um plano de segurança com supervisão de espaços, trocas de turma e mediação.
  4. Ajuste o digital. Privacidade fechada, sem chat com desconhecidos, revisão de seguidores e denúncias nas plataformas.
  5. Cuide da saúde mental. Sinais de ansiedade, depressão e insônia pedem avaliação.
  6. Em caso de ameaça de violência ou nudez e chantagem, encaminhe imediatamente à direção e às autoridades. Priorize segurança física e emocional.

Se o seu filho é o agressor

Crianças e adolescentes que agridem também precisam de intervenção. O objetivo é parar o dano, reparar e ensinar habilidades como empatia, autocontrole e resolução de conflitos. Combine com a escola consequências claras e reparações possíveis como pedir desculpas e participar de atividades de convivência. Em casa, investigue gatilhos como busca por status, grupos que incentivam, frustrações e insegurança. Estabeleça limites digitais com tempo, supervisão e sem anonimato. Incentive grupos e esportes que reforcem cooperação. Se houver impulsividade intensa ou agressividade persistente, procure avaliação profissional.

Efeitos do bullying na saúde

Bullying contínuo se associa a ansiedade, depressão, insônia, ideação suicida e pior aprendizagem. Em quem pratica, há maior risco de uso de substâncias e conflitos no longo prazo. Intervir cedo reduz sofrimento e melhora desempenho acadêmico e convivência.

Como a escola pode agir e como você pode cobrar

Planos de prevenção funcionam quando incluem mapeamento de pontos críticos como banheiros, corredores e recreio, treinamento da equipe, canal anônimo de denúncia, regras explícitas contra racismo e gordofobia, protocolos claros para ciberbullying e comunicação ativa com famílias. Indicadores periódicos como enquetes anônimas ajudam a medir avanço.

Quando buscar ajuda profissional

Procure avaliação se, por duas semanas ou mais, você notar medo da escola, crises de choro, insônia, queda brusca nas notas, autoisolamento, automutilação ou ideias de morte. Em urgência como risco de autoagressão, ameaça grave, nudez e chantagem, acione a escola e os serviços de emergência. No Brasil, o CVV 188 oferece apoio 24 horas.

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Dra Natalia Soledade

Dra. Natália Soledade é médica psiquiatra formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (2005), com especializações práticas em psiquiatria pela Residência Médica do Complexo Hospitalar Psiquiátrico do Juquery (2007) e no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência – SEPIA (2008).

Atende presencialmente em São Paulo e também oferece consultas online. Mãe de menino, apaixonada por viagens e jogar tênis, a Dra. Natália une experiência clínica à sensibilidade de quem valoriza cada história pessoal.

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