Recentemente, participei do APA Annual Meeting — considerado o maior e mais importante congresso de psiquiatria do mundo, onde um dos temas mais debatidos foi justamente a conexão entre insulina e saúde mental. A seguir, compartilho um pouco do que foi discutido e por que esse tema merece cada vez mais atenção de profissionais de saúde e da população em geral.
O que é a insulina e qual sua função no cérebro?
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas, conhecido principalmente pelo seu papel no controle dos níveis de glicose no sangue. No entanto, pesquisas recentes mostram que ela também atua no cérebro, participando da regulação do apetite, do humor, da memória e até do comportamento social.
Ou seja, a insulina não está relacionada apenas ao metabolismo, mas também à saúde mental e emocional.
Como a resistência à insulina afeta a saúde mental?
A resistência à insulina acontece quando as células do corpo deixam de responder adequadamente a esse hormônio, dificultando o controle da glicemia. O que poucos sabem é que esse processo também afeta o cérebro, contribuindo para alterações importantes no funcionamento neurológico.
Estudos apresentados no congresso mostraram que pessoas com resistência à insulina têm maior risco de desenvolver:
- Depressão: principalmente quadros mais crônicos e resistentes ao tratamento.
- Transtorno bipolar: a resistência à insulina é identificada em até 50% dos pacientes.
- Esquizofrenia: alterações metabólicas são comuns desde o primeiro episódio psicótico.
- Demências: como o Alzheimer, que muitos especialistas já chamam de “diabetes tipo 3”, devido à resistência insulínica específica no cérebro.
Esses dados mostram a importância de olhar para o metabolismo de forma integrada à saúde mental.
Estilo de vida saudável: a melhor estratégia de prevenção
Uma das grandes mensagens do congresso foi o poder das intervenções no estilo de vida para prevenir e tratar a resistência à insulina, com impacto direto na saúde mental.
Entre as estratégias mais eficazes estão:
- Alimentação equilibrada, com destaque para dietas baseadas em vegetais e fibras.
- Atividade física regular, combinando exercícios aeróbicos e de resistência.
- Sono de qualidade, respeitando horários e tempo adequado de descanso.
- Gestão do estresse, com práticas como mindfulness, meditação ou terapia.
Essas mudanças, além de melhorarem o metabolismo da insulina, promovem bem-estar emocional e reduzem o risco de transtornos mentais.
Medicamentos para diabetes também podem ajudar no tratamento psiquiátrico?
Sim! Outro ponto importante discutido no evento foi a utilização de medicamentos tradicionalmente usados no tratamento do diabetes para melhorar sintomas psiquiátricos.
Um exemplo é a metformina, que mostrou bons resultados na melhora do humor e na função cognitiva, especialmente em pacientes com transtorno bipolar resistente ao tratamento. Além disso, estudos recentes investigam o uso de insulina intranasal e agonistas do GLP-1 como estratégias inovadoras para proteger o cérebro e tratar alterações cognitivas, como ocorre no Alzheimer.
Essa abordagem representa uma verdadeira revolução na forma como entendemos e tratamos transtornos mentais.
O Papel do psiquiatra na prevenção e no cuidado metabólico
O congresso reforçou o papel fundamental dos psiquiatras na prevenção e no manejo da resistência à insulina. Afinal, muitos medicamentos utilizados em psiquiatria, como os antipsicóticos e estabilizadores de humor, podem favorecer o ganho de peso e, consequentemente, a resistência insulínica.
Por isso, o acompanhamento psiquiátrico deve ir além do tratamento dos sintomas mentais, incluindo também a avaliação e o monitoramento metabólico. Medidas simples, como a verificação periódica de peso, glicemia e perfil lipídico, podem fazer toda a diferença na qualidade de vida dos pacientes.
Conclusão: saúde mental e metabólica caminham lado a lado
Participar de congresso foi essencial para trazer essas atualizações de ponta diretamente para sua prática clínica, seja no atendimento presencial em São Paulo ou online para todo o Brasil.
Cada vez mais, fica claro que saúde mental e saúde metabólica são inseparáveis. Cuidar do corpo é também cuidar da mente — e vice-versa.
Se você quer saber mais ou precisa de orientação especializada, agende uma consulta.