Jogos online para crianças: quais os riscos?

Jogar online faz parte da rotina dos jovens. Em 2023, cerca de 60% das crianças e adolescentes (3 a 17 anos) jogavam na internet. A maioria conversa com amigos pelo chat (64%), mas 31% também fala com desconhecidos dentro dos jogos.

A OMS já reconhece o vício em jogos (gaming disorder). Estudos apontam algo entre 6,7% e 8,6% de adolescentes com sinais de uso problemático.
A Academia Americana de Pediatria não dá um número de horas “ideal” para todo mundo. O foco deve ser: como o jogo impacta o sono, a escola, o humor e a convivência.
Nos últimos anos, aumentou a pressão por segurança e transparência. A Epic/Fortnite foi multada por práticas enganosas e iniciou reembolsos. A Austrália passou a sinalizar jogos com loot boxes (caixinhas pagas com sorteio) como M (não recomendado para menores de 15) e simuladores de aposta como R18+.

Riscos mais comuns em jogos online para crianças

  • Grooming (aliciamento): adultos fingem ser jovens para ganhar confiança, pedir fotos, marcar encontros ou explorar. Isso acontece com mais facilidade em jogos com chat aberto.
  • Loot boxes / gacha e microcompras: o jogo oferece “caixinhas” pagas com itens aleatórios. Isso incentiva gastar repetidamente e pode parecer jogo de azar para quem é menor.
  • Voz e chat sem filtro: conversa por voz ou texto com pessoas desconhecidas aumenta ofensas, assédio e pedidos perigosos. Parte dos jovens fala com estranhos nos jogos.

Jogos e modos que pedem cuidado extra

Por que estão aqui: têm loot boxes/gacha, chat/voz aberto, conteúdo adulto (violência/sexo/drogas) ou ligação com apostas de skins e processos recentes. Esses jogos online não são adequados para crianças.

Roblox (sem supervisão)
Motivo: é uma “plataforma de jogos” feita por usuários, com chat. Já teve casos de aliciamento e falhas de proteção.
Como reduzir: bloqueie chat, ative conta infantil, restrinja os jogos por faixa etária e use verificação de idade.

EA Sports FC — modo Ultimate Team (packs)
Motivo: loot boxes (pacotes) com chances de itens raros; estimula gasto repetido.
Como reduzir: desligue as compras e evite o modo UT com menores.

Counter-Strike 2 (caixas/skins)
Motivo: 17+, violência e caixas com skins. Há sites externos de aposta com skins.
Como reduzir: não é para menores. Com adolescentes, sem compras e proibido acessar sites de terceiros.

Grand Theft Auto V / Online
Motivo: 18+ por violência, sexo, drogas e linguagem. Não é conteúdo para menores.
Como reduzir: respeitar a classificação etária.

Call of Duty (Warzone / Modern Warfare)
Motivo: 17+, violência intensa e chat/voz abertos (alto risco de assédio).
Como reduzir: evitar com menores. Com adolescentes, chat só com amigos e controles de voz.

Jogos “gacha” (ex.: Genshin Impact e similares)
Motivo: obtém personagens/itens por sorteio; pode incentivar gasto repetido.
Como reduzir: bloqueie compras, converse sobre probabilidades e combine teto zero para gacha.

NBA 2K (modo MyTeam)
Motivo: histórico de packs e visual que remete a cassino; estimula gastar.
Como reduzir: evite o MyTeam com menores e bloqueie pagamentos.

Dica geral: consulte ESRB/PEGI para ver a idade recomendada, os avisos (violência, linguagem, sexo) e os recursos interativos (“users interact”, “in-game purchases”, “simulated gambling”).

Dados rápidos para conversar em família

  • 31% dos jovens que jogam falam com desconhecidos nos jogos.
  • Entre 6,7% e 8,6% dos adolescentes mostram uso problemático.
  • Loot boxes/gacha se associam a pior bem-estar e a comportamentos parecidos com jogo de azar.
  • Países já sinalizam jogos com loot boxes e restringem simuladores de aposta.

Como reduzir riscos dos Jogos online para crianças

  • Configurações e senhas: ative controles parentais no console/celular, bloqueie compras e use senha/biometria para qualquer pagamento.
  • Chat/voz: para crianças, desative. Para adolescentes, somente com amigos e sempre com moderação.
  • Dinheiro: combine gasto zero com loot boxes/gacha. Fale sobre probabilidades e “estratégias” do jogo para fazer gastar.
  • Rotina e saúde: siga um plano de mídia em família. Se o jogo rouba o sono, derruba as notas ou deixa irritado, é sinal de excesso.
  • Diálogo e supervisão: mantenha o PC/console em área comum, revise a lista de amigos, ensine a bloquear e denunciar. Fale abertamente sobre grooming e bullying.

Quando procurar ajuda

Procure um profissional se você notar perda de controle, gastos sem parar, queda forte no rendimento, isolamento, humor instável ou contatos suspeitos pedindo sigilo.
em risco imediato (ameaças, chantagem, pedido de nudes, exposição), salve as provas, denuncie na plataforma e busque apoio especializado.

Se você quer revisar as configurações da casa, escolher jogos adequados por idade e montar um plano de mídia seguro.

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Dra Natalia Soledade

Dra. Natália Soledade é médica psiquiatra formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (2005), com especializações práticas em psiquiatria pela Residência Médica do Complexo Hospitalar Psiquiátrico do Juquery (2007) e no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência – SEPIA (2008).

Atende presencialmente em São Paulo e também oferece consultas online. Mãe de menino, apaixonada por viagens e jogar tênis, a Dra. Natália une experiência clínica à sensibilidade de quem valoriza cada história pessoal.

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