Ozempic ou Mounjaro: quais os efeitos no cérebro?

Nos últimos meses, muitos pacientes têm me perguntado sobre os efeitos do Ozempic e do Mounjaro — não apenas no corpo, mas também na mente. Essa curiosidade é válida: afinal, são medicamentos em alta, com resultados impressionantes no controle de peso, mas que também vêm despertando atenção por seus impactos no cérebro.

Tive a oportunidade de acompanhar esse tema de perto durante o APA Annual Meeting 2024 (American Psychiatric Association), o maior congresso de psiquiatria do mundo. Lá, especialistas do mundo todo apresentaram estudos e reflexões importantes sobre os efeitos neuropsiquiátricos dos agonistas de GLP-1, como a semaglutida e a tirzepatida. Neste artigo, compartilho com vocês os pontos mais relevantes.

O que são ozempic e mounjaro?

Ozempic e Mounjaro são medicamentos usados originalmente para o tratamento do diabetes tipo 2. Ambos atuam através do sistema GLP-1 (peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1), que regula o apetite, o metabolismo e, como estamos descobrindo, também influencia o sistema nervoso central.

Além de promoverem uma perda de peso significativa, essas medicações estão sendo investigadas pelos seus efeitos no humor, no controle de impulsos e na saúde cerebral.

O que a ciência está revelando sobre ozempic e mounjaro?

Durante o congresso da APA, diversos estudos foram apresentados mostrando benefícios e também possíveis riscos associados ao uso dessas medicações.

Benefícios observados:

Por tanto, esses efeitos podem estar relacionados à ação do GLP-1 em áreas cerebrais responsáveis pelo prazer e pelo controle de impulsos, especialmente o sistema dopaminérgico.

Efeitos adversos relatados:

  • Insônia
  • Ansiedade
  • Quadro depressivo
  • Casos isolados de ideação suicida

Portanto, é importante destacar que esses efeitos são pouco frequentes, mas merecem atenção, principalmente em pacientes com histórico de transtornos psiquiátricos.

O papel do intestino no humor

Outro ponto discutido no congresso foi a influência do eixo intestino-cérebro. Os medicamentos da classe GLP-1 alteram a digestão, a microbiota intestinal e a liberação de peptídeos intestinais, que estão diretamente ligados ao equilíbrio emocional.

Alterações na microbiota, nos ácidos biliares e na absorção de nutrientes essenciais podem impactar sintomas como ansiedade, irritabilidade e até depressão.

Comparando com outras formas de perda de peso

Abaixo, compartilho um comparativo discutido no congresso entre os principais métodos de emagrecimento e seus possíveis efeitos na saúde mental:

Minha orientação como psiquiatra

Como médica psiquiatra, vejo com bons olhos o avanço de medicações como o Ozempic e o Mounjaro — especialmente quando acompanhadas de forma adequada. Ou seja, proporciona benefícios importantes para o corpo e para a mente, mas precisam ser usadas com responsabilidade.

Em outras palavras, se você tem histórico de ansiedade, depressão, compulsão alimentar ou outros quadros psiquiátricos, recomendo que o uso desses medicamentos seja feito com acompanhamento conjunto entre endocrinologista e psiquiatra. O cuidado integrado é a chave para um tratamento seguro e eficaz.

Estou à disposição para tirar dúvidas e orientar quem estiver considerando o uso dessas medicações. Informação e acompanhamento são os maiores aliados da saúde.

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Dra Natalia Soledade

Dra. Natália Soledade é médica psiquiatra formada pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Uberlândia (2005), com especializações práticas em psiquiatria pela Residência Médica do Complexo Hospitalar Psiquiátrico do Juquery (2007) e no Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência – SEPIA (2008).

Atende presencialmente em São Paulo e também oferece consultas online. Mãe de menino, apaixonada por viagens e jogar tênis, a Dra. Natália une experiência clínica à sensibilidade de quem valoriza cada história pessoal.

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