TDAH não é “falta de foco” eventual. É um padrão que atravessa a vida: projetos que não saem do papel, prazos estourados, objetos perdidos, dificuldade com prioridades e um motor interno que não desliga. Nos adultos, a hiperatividade costuma virar agitação interna: perna inquieta, mente acelerada e impaciência. Os critérios diagnósticos exigem que pelo menos alguns sintomas existam desde a infância (antes dos 12 anos) e que causem prejuízo em duas ou mais áreas (trabalho, estudo, casa, relações). Em adultos, bastam cinco sintomas em desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade.
TDAH: descobrir na infância x descobrir só na vida adulta
Quando o TDAH é identificado na infância, dá tempo de ajustar escola, rotina e, se preciso, tratar, o que tende a reduzir perdas acumuladas. Já quem chega ao diagnóstico na vida adulta costuma relatar anos de culpa, autoestima baixa e muitos atalhos para dar conta do dia a dia (virar noites, evitar tarefas longas, viver apagando incêndios). No diagnóstico adulto, é essencial reconstruir a história, pedir relatos de familiares quando possível e lembrar que os sinais mudam com a idade. Muitas mulheres passam despercebidas por décadas porque a inquietação aparece mais como ansiedade, perfeccionismo e exaustão do que como hiperatividade evidente.
Principais sintomas de TDAH em adultos
Desatenção para detalhes, distração fácil, começar muito e terminar pouco, dificuldade de planejar e organizar, atrasos crônicos, perder prazos e contas, esquecer compromissos, procrastinação, impulsividade (falar sem pensar, compras por impulso), inquietação corporal, oscilações emocionais e períodos de hiperfoco seguidos de esgotamento. Esses sinais precisam persistir por seis meses ou mais e gerar prejuízo real para falarmos em TDAH. Não é “traço de personalidade”.
Existe fator genético?
Existe, e é forte. Estudos com famílias e gêmeos estimam herdabilidade em torno de 70–75%. O risco é poligênico, somando o efeito de muitos genes pequenos. Genética não é destino. Entender o perfil ajuda a desenhar estratégias de ambiente, hábitos e ferramentas, além de embasar decisões terapêuticas.
Remédios: quais são os mais usados
No tratamento medicamentoso do TDAH em adultos, a melhor evidência é para os estimulantes e para a atomoxetina.
- Estimulantes: metilfenidato e anfetaminas (incluindo lisdexanfetamina) costumam reduzir distração, impulsividade e agitação interna e facilitar planejamento e execução. Antes de iniciar, vale checar pressão arterial e frequência cardíaca e monitorar durante o ajuste de dose.
- Não estimulantes: atomoxetina é a principal alternativa quando há contraindicação, intolerância ou preferência do Paciente. Outras opções como bupropiona ou guanfacina de liberação prolongada podem ser consideradas em contextos específicos.
Medicação funciona melhor quando combinada com psicoeducação e psicoterapia estruturada (por exemplo, TCC adaptada para TDAH), focando em organização, manejo do tempo, priorização e regulação emocional.
Ferramentas práticas que ajudam no TDAH
Agenda visível, listas curtas com três prioridades do dia, blocos de tempo de 25–50 minutos com pausas programadas, alarmes para transições, descarregar decisões repetitivas (cardápio simples, roupas básicas), “ponto de pouso” para chaves e carteira, rotina-âncora de sono e exercícios leves. Pequenas mudanças, feitas de forma consistente, reduzem atrito e consumo de energia mental.
Comorbidades frequentes no TDAH
Ansiedade, depressão e uso problemático de álcool ou nicotina aparecem com frequência, principalmente quando o TDAH passa anos sem diagnóstico. Tratar o TDAH e as comorbidades diminui recaídas, melhora adesão e acelera a recuperação.
Quando procurar um psiquiatra
Procure avaliação se você se reconhece nos sintomas acima há pelo menos seis meses, com prejuízo no trabalho, na faculdade ou nas relações. Busque ajuda se já tentou aplicativos, planners e rotinas e continua patinando, se há histórico infantil que faça sentido ao olhar para trás, ou se existem comorbidades (ansiedade, depressão, uso de substâncias). É prioridade marcar consulta quando há risco para você ou para outros (acidentes repetidos, endividamento por impulsividade, ideias de autoagressão) ou quando os sintomas estão travando a vida (ameaça de perder emprego, trancar curso, conflitos intensos).